Matus, Carlos. Teoria do Jogo Social. São Paulo: FUNDAP, 2005.

"A idéia de solução de um problema oculta a contrapartida dos efeitos colaterais indesejáveis. A operação ou ação realizada para solucionar um problema gera efeitos colaterais não buscados nem desejados pelo ator que intervém na situação. Será que se pode considerar solucionado um problema ao custo de gerar outro problema maior? Quando um Presidente da República opta por um plano de reajuste macroeconômico, por exemplo, ele faz um balanço dos custos e benefícios. Esses custos e benefícios podem ser de ordens muito diferentes: políticos, econômicos, cognitivos, éticos, organizacionais, de segurança, etc. Em um plano de ajuste macroeconômico é preciso, assim, comparar entre outros os benefícios do saneamento econômico e a redução da taxa de inflação, em relação com o custo político do desemprego e do arrocho salarial. O que é vale mais? Os problemas mitigados ou os problemas gerados ou intensificados? Nessa avaliação, entra também o tempo em que ocorrem os custos e os benefícios, e se os mesmos são estáveis ou transitórios.

Não podemos impedir, ao menos transitoriamente, os efeitos colaterais indesejáveis. Há portanto um intercambio de problemas. A ação pública gera efeitos positivos e negativos em relação às metas declaradas. É uma troca entre o beneficio da meta atingida e o custo de criar novos problemas, ou intensificar os já existentes. O ato de intervenção não é limpo, ele gera outros problemas. Fazer política é praticar o intercambio de problemas. Um projeto do governo é uma proposta de intercambio de problemas."